Introdução ao estudo da História: História Antiga

O estudo da História, na Universidade ou fora dela, depende de uma leitura adequada. As novas mídias proporcionam maiores oportunidades de disseminação do conhecimento. No entanto, escolher o material de aprendizado se tornou, por vezes, difícil. A intenção deste, e dos próximos artigos, é ajudar no processo de escolha de uma bibliografia introdutória à disciplina histórica.  


Para aqueles que desejam se aprofundar no conhecimento histórico, textos introdutórios são, na maioria dos casos, mais efetivos. Em geral, eles são abrangentes e oferecem um recorte amplo sobre determinado período ou tema. Por isso mesmo, agradam leitores especializados e curiosos em geral.

Como ponto de partida, escolhi a coleção História na Universidade, da  Editora Contexto. Composta, atualmente, por doze títulos, a coleção se debruça sobre a história da Europa, da África, da América e do Brasil, utilizando as suas divisões clássicas. Os livros são escritos por especialistas brasileiros e têm, em seu conjunto, um ponto de vista desde o Brasil. Ainda que a divisão dos períodos históricos em Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea guie a organização temática dos livros, é importante destacar que as suas balizas cronológicas não são consenso na historiografia. Tal ponto é abordado nos livros.

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Neste primeiro artigo, escreverei sobre o livro História Antiga  de Norberto Luiz Guarinello.

O autor começa o livro levantando a seguinte questão: Por que a História Antiga é tema debatido nas salas de aula do Brasil? 

Reposta: O Brasil, desde o século XIX, "ocidentalizou" a sua própria história, em uma tentativa de inseri-la no quadro da chamada Civilização Ocidental. Tal proposta, vinculada a visão de nação que se queria construir, tem as suas implicações ideológicas. O que estava em jogo era a noção de identidade que adotaríamos. O local de construção, exercício e reprodução dessa memória social seria a escola, dos graus mais simples à universidade.

Outra indagação pertinente remete à própria noção de História Antiga, que, por si só, é imprecisa. Afinal, quais seriam as balizas cronológicas, sociais e geográficas que definem o período? A resposta é a desconcertante constatação da arbitrariedade do rótulo, que aponta, em sua maior parcela, para os primórdios do que hoje se convencionou chamar de Ocidente. Os especialistas no período não concordam com os seus marcos temporais. Entretanto, defendem a constante atualização dos conceitos utilizados.

O livro é divido em nove capítulos, que mesclam concisão e profundidade, e são escritos de forma clara e didática. Cabe destacar aqui o que, a meu ver, são os seus pontos fortes. 

A análise da construção do termo/conceito História Antiga. Partindo dos estudiosos italianos do século XII, passando pelos historiadores do século XVII - os primeiros a estudar sistematicamente o período - e XIX. O que esses períodos teriam em comum seria o uso ideológico do passado, utilizado tanto para construir a noção de grandeza civilizacional do ocidente quanto justificar o expansionismo europeu. O século XX, por sua vez, deu origem a uma miríade de olhares sobre o mundo antigo, com a ampliação dos métodos de pesquisa e das teorias sociais. Pelo menos em parte, ideologia e História teriam se separado.

O foco do estudo não foi as civilizações em si, mas a interação entre elas, tendo como base o Mediterrâneo. Ao privilegiar uma abordagem mais geográfica, o autor explicou o processo de integração dos povos da bacia mediterrânea e como as suas trocas contribuíram, em graus diferentes, para a formação das civilizações na região. Priorizando o espaço ao invés de uma civilização específica, destacou as continuações mais do que as rupturas. As navegações, as trocas culturais, as distintas colonizações, as cidades-estado, os conflitos e guerras, a ascensão e o declínio dos povos e impérios, explicam as bases da originalidade da civilização grega e, sobretudo, da civilização romana, a única bem sucedida em impor a sua hegemonia diante dos outros povos da região.   

O exame e o uso do conceito de Antiguidade Tardia. O autor adotou a linha teórica que defende que, mesmo após a Queda de Roma em 476 d.C. (marco tradicional do fim da Idade Antiga), a civilização romana, já cristianizada, serviu como base para a integração cultural dos povos mediterrâneos - e mesmo além dele. Para comprovar tal afirmação, seria necessário focar no processo de cristianização dos povos germânicos, as diferentes correntes do cristianismo que se espelharam pelo Mediterrâneo, o latim como "língua oficial", as formas de organização políticas das cidades-estado, entre outros pontos. A integração econômica entre as diferentes regiões não desapareceu, no entanto, e sobretudo por causa das guerras, tornou-se mais escassa. 

Por fim, o autor conclui que apontar uma data, seja ela qual for, para o fim da Idade Antiga ou de qualquer outro período, nada mais é do que escolher de forma arbitrária. Do ponto de vista histórico, o passado continua influenciando o presente, logo, dizer que tal época acaba e outra começa, não faz justiça à realidade social.

Dados bibliográficos:
GUARNIELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Editora Contexto, 2018.

Comentários

  1. ótimo artigo, logo, se for permitido indicarei uma obra de um historiador gaúcho para um artigo, abraços.

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    1. Obrigado pela leitura.
      Fique à vontade para indicar bibliografia que considerar proveitosa para os estudos.

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  2. Em um Brasil que anda marginalizando as Ciências Humanas, blogs como esse são um bálsamo paraa alma.

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    1. Obrigado pela leitura e pelas palavras.
      De fato, nosso país nunca foi grande admirador das ciências. Com este blog, pretendo contribuir um pouco para que possamos reverter o quadro. Toda ajuda na divulgação será bem vinda.

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